O ano litúrgico se desenvolve em torno de duas grandes
festas: Páscoa e Natal ou manifestação do Senhor. A Páscoa, que compreende a
quaresma, as festas pascais, o tempo pascal até Pentecostes; o Natal, que
envolve o Advento e a Epifania, formam os dois grandes ciclos, que explicitam
em perspectivas diversas o único mistério de nossa redenção, ou seja: a encarnação, paixão, morte, ressurreição,
ascensão de Jesus Cristo, juntamente com o derramamento de seu Espírito e sua
segunda vinda (SC 102).
O tempo “eterno” de Deus invade o limitado tempo humano e,
pela força pascal do Espírito, o torna sacramental: dentro do nosso tempo
mortal o desígnio do Pai vai se manifestando e realizando, até o dia de sua
vinda final e gloriosa. Pela ação misericordiosa de Deus, nosso tempo torna-se
tempo de graça misericordiosa de Deus, nosso tempo torna-se tempo de graça,
tempo de salvação!
O ciclo da manifestação, ciclo de Natal ou ciclo natalino é o
tempo que começa com o primeiro domingo do advento e termina com a festa do
Batismo do Senhor. O mistério particular de Cristo no qual se centram suas
celebrações é o da manifestação do
Senhor. Sua manifestação na carne, ao nascer em Belém (Natal), sua manifestação
as nações pela visita dos magos do Oriente (Epifania) e sua manifestação a
Israel no início de seu ministério messiânico (Batismo). É o tempo da
encarnação, do Emanuel (Deus-conosco) de Is7, 14, início da redenção salvífica.
O tempo do advento, cujo nome significa chegada ou vinda do Senhor,
não tem um número fixo de dias, pois está determinado pelo dia da semana em que
cai a solenidade do Natal. Começa com as primeiras vésperas do domingo mais
próximo ou que coincide com o dia 30 de novembro, e termina antes das vésperas
do Natal. É um tempo ritmado por seus quatro domingos, destinado a preparar o
povo cristão para a segunda grande festa cristã do ano depois da Páscoa: o
nascimento de Jesus ou Natal. É um tempo de espera prazerosa, não de
penitência, como poderia sugerir a cor roxa dos paramentos.
O advento tem um caráter duplo, histórico e escatológico:
prepara para o Natal, festa da primeira vinda de Cristo, e dirige o olhar
interior da Igreja para a segunda e definitiva vinda de Cristo. Essa vinda
dupla percorre a liturgia do advento, que se centra mais no aspecto
escatológico até o dia 16 de dezembro, e mais no aspecto do nascimento
histórico do dia 17 ao dia 24 de dezembro. Por isso, neste último período a
figura da Virgem Maria tem uma relevância particular, que se prolonga no tempo
do Natal. Portanto é mais conveniente dá “destaque” a Maria no advento e não no mês de maio, pois, maio está imbuído do espírito
pascal. O mês de maio sempre cai no Ciclo Pascal.
Podemos dizer que o tempo do advento está ligado ao tempo
comum. É seu encerramento, na comemoração da última vinda de Cristo. São
sobretudo os dois últimos domingos que realçam esse aspecto. Por outro lado, o
advento como tempo de preparação para as solenidades do Natal está todo ele
voltado para o ciclo litúrgico do Natal, já fazendo parte dele.
É um tempo que nos coloca em permanente expectativa da vinda,
da chegada de Deus e de seu Reino em nossa realidade. Abre-nos para o encontro
com o Senhor que vem nos acontecimentos da vida e, particularmente, no momento
celebrativo, comemorando o Senhor que veio fazendo-nos dar um passo à frente ao
encontro do Senhor que virá glorioso, quando seu Reino estiver plenamente
estabelecido entre nós.
O sinal principal, deste tempo, é a Eucaristia, o sacramento
da espera... “até que Ele venha”. O advento é tempo de nos engravidar da
Palavra e o Verbo se faça carne em nós! A Liturgia da Palavra pedagogicamente
nos leva a viver a expectativa de um novo parto da salvação de Deus.
No 1º domingo os textos bíblicos nos chamam às atitudes de
expectativa, vigilância e atenção aos “sinais dos tempos” para que não sejamos
tomados de surpresa. No 2º domingo, Isaías e João Batista no impelem a preparar
os caminhos ainda tortuosos de nossa vida que impedem a chegada do Reino. É
preciso endireitá-los, aplainá-los para que Ele venha e sua salvação aconteça
entre nós. No 3º domingo somos convidados a nos alegrar percebendo os sinais da
salvação já presentes entre nós. O Senhor está vivo e atuante no meio de nós.
Neste domingo a cor rósea traz aos olhos o sentido de uma alegre espera. No 4º
domingo, Maria grávida é sinal da comunidade que crê, espera ansiosa por ver o
Reino acontecer e se coloca à disposição dos apelos de Deus para seu projeto se
realize.
Concluindo apresentarei alguns elementos que compõem a
caminhada do advento. Um elemento significativo é a coroa do advento. Ela feita
com ramos verdes, com as quatro velas que progressivamente se acendem,
retomando o costume judaico de celebrar a vinda da luz na humanidade dispersa
pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que
vem. A novena do Natal feita em grupos mantém a atitude de vigilância e espera
do advento, com orações, meditação da Palavra, cantos, gestos de solidariedade
e compromisso com os mais pobres, montagem do presépio e momentos de
confraternização. As celebrações de reconciliação e penitência durante o tempo
do advento possibilitam às comunidades um caminho de conversão e retomada do
projeto de Jesus.
Jaciel Dias de Andrade
Bibliografia
BECKÄUSER,
A. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades.
Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.
CELAM. Manual de liturgia. A celebração do
mistério pascal: outras
expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja.
Tradução de Herman Hebert Watzlawich. São Paulo: Paulus, v. IV, 2007
LITURGIA, C. D. Cadernos de Liturgia - Ano Litúrgico como
realidade simbólico-sacramental. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, v. 11, 2006.
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