CRISTO REI NO TEMPO COMUM

Os dois ciclos dos tempos fortes do ano litúrgico, o ciclo do Natal e o ciclo da Páscoa, não cobrem o ano todo. Existem períodos entre o fim do tempo do Natal e o início da quaresma e entre Pentecostes e o primeiro domingo do Advento, que chamamos de Tempo comum. São os domingos e as semanas em que celebramos sempre o mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor, não somente na missa, mas igualmente em celebrações da Palavra, na liturgia das horas e em outras celebrações, até nas festas de Nossa Senhora e dos outros santos. Sobretudo cada domingo do Tempo comum é uma pequena festa de páscoa. Estes domingos, como também os dias de semana, são marcados pelas leituras do respectivo dia.
Durante o tempo comum não se celebram aspectos particulares do mistério pascal, como acontece nos ciclos do Natal e da Páscoa, exceto algumas festas do Senhor, da Virgem Maria ou dos demais santos que acontecem dentro dele.
O tempo decorrido nas 34 semanas fora dos ciclos do Natal e da Páscoa é chamado Tempo comum. Os domingos são domingos do Tempo comum ou Durante o ano.
Esses domingos recebem sua força ou sua espiritualidade de duas fontes: dos tempos fortes e dos próprios domingos. Assim, o Tempo comum é vivido como prolongamento do respectivo tempo forte. A primeira parte após a Epifania e o Batismo do Senhor.  Constitui, então, um tempo de crescimento. Daí a cor verde. A vida nasceu no Natal; ela manifesta-se na Epifania, mas para que possa manifestar-se em plenitude, e produzir fruto, necessita da ação do Espírito Santo. Vemo-lo agir no Batismo do Senhor. Assim, é levado pelo Espírito que Jesus começa a exercer o seu poder messiânico. Do mesmo modo na Igreja. Fecundada pelo Espírito, ela produz frutos de boas obras.
Trata-se de um Tempo caracterizado pelo domingo, por sua teologia, por sua espiritualidade. Não é o caso de substituí-los por temas diferentes, embora algumas solenidades sejam transferidas para domingos. Estas solenidades ou acontecimentos vividos nos domingos terão de ajudar a celebrar o mistério pascal do domingo. Para um aprofundamento sobre o domingo recomendo ler o artigo Ano litúrgico: o mistério de Cristo, publicado anteriormente no site da Diocese de Guanhães (http://diocesedeguanhaes.com.br/), no meu blog (http://jaciel6.blogspot.com.br/) e publicado, também, em uma edição anterior da folha diocesana. No site e no blog se encontram outros textos referente ao ano litúrgico.
Um caso especial de uma festa que ocorre no domingo do Tempo comum é a do Cristo Rei. Esta festa foi criada, na 2ª década do séc. XX, para salientar que Jesus é e fica o Rei do mundo que se afasta sempre mais de Deus. Pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, esta festa foi fixada no último domingo do tempo comum e do ano litúrgico, para dirigir nosso olhar para o Senhor que virá no fim dos tempos para estabelecer plena e definitivamente o seu reino e entrega-lo ao Pai. O caráter desta festa inspirava-se no reconhecimento de Jesus Cristo homem como Rei da criação. E era também reflexo do desejo da Igreja de garantir uma visão da Igreja como cristandade, em que Jesus Cristo devia ser reconhecido publicamente pela sociedade como Rei de todos os soberanos da terra.
Com a reforma litúrgica, a solenidade de Cristo, Rei do Universo sofreu uma mudança de empostação bastante profunda. Agora a solenidade é colocada como último domingo do Ano litúrgico, ou seja, como o 34º Domingo do Tempo comum. Existe um propósito por trás disso. Os dois últimos domingos do Tempo comum e os dois primeiros do Advento caracterizam-se pelo mistério da parusia. Os evangelhos desses domingos proclamam a última vinda, a vinda gloriosa de Cristo, a consumação final, quando Jesus Cristo terá submetido a si e ao Pai todas as coisas e reinará para sempre.
Colocado neste lugar, a festa de Cristo Rei quer proclamar que Jesus Cristo é o Senhor do tempo. É Ele o início dos tempos e o seu fim: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; ele o será para sempre!” (Hb 13, 8).
Um segundo aspecto realçado nesta solenidade: Jesus é Rei ou Senhor não tanto no sentido dos reinos temporais. Os reinos deste mundo são efêmeros e sempre mais raros nos nossos dias. Jesus Cristo é, sobretudo, o Senhor dos corações, ou seja, de todo o ser e agir dos cristãos. Jesus Cristo deve ser o centro de todo pensar e agir dos cristãos. Nada deve ser subtraído a Ele, pois Ele, dom do Amor do Pai, é a vida que Ele veio dar em abundância.
Jesus Cristo é um rei que veio para servir. Oferecendo-se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção dos homens. Isso quer dizer que a conquista do Reino dos céus passa pelo serviço aos irmãos, pela doação da própria vida, a exemplo de Cristo.
O reino de Cristo, submetendo ao seu poder toda criatura, e entregando à infinita majestade do Pai o reino eterno e universal é, como diz o Prefácio da solenidade, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino de justiça, do amor e da paz.
Jaciel Dias de Andrade
Seminarista do 1° ano de Teologia
Membro da Equipe Diocesana de Liturgia da Diocese de Guanhães – MG
Bibliografia

BECKÄUSER, A. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades. Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.

CELAM. Manual de liturgia, a celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. Tradução de herman hebert watzlawich. São Paulo: Paulus, v. IV, 2007.
LITURGIA, C. D. Cadernos de Liturgia - Ano Litúrgico como realidade simbólico-sacramental. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, v. 11, 2006.



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