João não associa a Eucaristia à
última ceia de Jesus. O autor não registra a instituição da Eucaristia, mas
evidentemente a conhece. Jo 6, apresenta a Eucaristia de modo original,
tornando mais explicito o tema da comunhão. A Eucaristia é acima de tudo o
alimento que nutre o homem para a vida eterna.
A Eucaristia ocupa um lugar muito
importante no pensamento do quarto evangelista. Dela se trata no próprio centro
da obra, no capítulo 6, num momento crucial da pregação de Jesus. É nesse
instante que os falsos discípulos decidem abandonar a Jesus (v. 60-66) e que
aparece o perfil “daquele que devia entregar-se” (v. 64 e 71); mas também é o
momento que os “Doze” aderem obstinadamente a Jesus, reconhecendo-o pelo que
realmente é (v. 67-69).
O ponto de partida do diálogo e
do discurso de Jo 6, 25-59 é o alimento dado miraculosamente a cinco mil
pessoas. O discurso começa com o pão que se perde (6, 27), demonstra a
diferença entre o maná, pão do céu (6, 32), e o pão do céu que dá vida ao mundo
(6, 33). O próprio Jesus é o pão da vida que vem do céu (6, 35). Os judeus não
reagem a ideia do pão, mas sim à ideia de Jesus ter descido do céu (6, 42).
E Jesus reafirma que ele é o pão
da vida, o pão vivo, fazendo do comer esse pão uma condição para a vida eterna
(6, 51) e identificando com sua carne o pão que dá pela vida do mundo. Agora,
os judeus reagem à ideia de comer da sua carne (6, 52). E Jesus reafirma que se
deve comer da sua carne e beber do seu sangue para ter a vida eterna, pois ele
vive naquele que come e bebe, a quem ressuscita. Esse é o verdadeiro pão
celeste (6, 53-58). É clara a intenção eucarística da última parte do discurso.
A primeira parte, no entanto, não
é interpretada por todos em sentido eucarístico. Alguns pensam que João reuniu
dois discursos diferentes: no primeiro, Jesus é o pão da vida, com sua
pregação, ou seja, o pão da vida é a sua palavra; esse discurso teria sido
unido por João a um discurso eucarístico, o segundo. É evidente que o conjunto
o discurso constitui uma construção joanina. Mas o tema do pão da vida é tão
central e denso no discurso que não é fácil identificar acréscimos.
Dentro da moldura, o discurso
gira em torno de Jesus como pão que é aceito pela fé em seu ensinamento (6, 40.
44-47). O tema da salvação e o tema escatológico estão unidos na insistência
joanina sobre o sacramento como princípio de vida, tema que João desenvolve ao
seu modo específico. O tema expiatório já não fica tão evidenciado, mas está
presente na frase “o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (6,
51).
Os falsos discípulos se afastaram
de Jesus porque ele exigiu que crescem na vinda do Filho do homem na “carne e
no sangue” (6, 27.35.51), e que crescem com todo o seu ser. Deviam acolher pela
fé este Filho do homem, mas acolhê-lo também como feito de carne e sangue;
deviam “comer sua carne e beber seu sangue”.
A eucaristia, segundo João, é a
comunicação do Filho do homem vindo na carne e no sangue. Esta comunicação
supõe acolhimento, que só pode consistir em que o homem acolha a carne do Filho
do homem em sua própria carne.
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