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ADVENTO: VEM, SENHOR JESUS.

O ano litúrgico se desenvolve em torno de duas grandes festas: Páscoa e Natal ou manifestação do Senhor. A Páscoa, que compreende a quaresma, as festas pascais, o tempo pascal até Pentecostes; o Natal, que envolve o Advento e a Epifania, formam os dois grandes ciclos, que explicitam em perspectivas diversas o único mistério de nossa redenção, ou seja: a encarnação, paixão, morte, ressurreição, ascensão de Jesus Cristo, juntamente com o derramamento de seu Espírito e sua segunda vinda (SC 102).
O tempo “eterno” de Deus invade o limitado tempo humano e, pela força pascal do Espírito, o torna sacramental: dentro do nosso tempo mortal o desígnio do Pai vai se manifestando e realizando, até o dia de sua vinda final e gloriosa. Pela ação misericordiosa de Deus, nosso tempo torna-se tempo de graça misericordiosa de Deus, nosso tempo torna-se tempo de graça, tempo de salvação!
O ciclo da manifestação, ciclo de Natal ou ciclo natalino é o tempo que começa com o primeiro domingo do advento e termina com a festa do Batismo do Senhor. O mistério particular de Cristo no qual se centram suas celebrações é o da manifestação do Senhor. Sua manifestação na carne, ao nascer em Belém (Natal), sua manifestação as nações pela visita dos magos do Oriente (Epifania) e sua manifestação a Israel no início de seu ministério messiânico (Batismo). É o tempo da encarnação, do Emanuel (Deus-conosco) de Is7, 14, início da redenção salvífica.
O tempo do advento, cujo nome significa chegada ou vinda do Senhor, não tem um número fixo de dias, pois está determinado pelo dia da semana em que cai a solenidade do Natal. Começa com as primeiras vésperas do domingo mais próximo ou que coincide com o dia 30 de novembro, e termina antes das vésperas do Natal. É um tempo ritmado por seus quatro domingos, destinado a preparar o povo cristão para a segunda grande festa cristã do ano depois da Páscoa: o nascimento de Jesus ou Natal. É um tempo de espera prazerosa, não de penitência, como poderia sugerir a cor roxa dos paramentos.
O advento tem um caráter duplo, histórico e escatológico: prepara para o Natal, festa da primeira vinda de Cristo, e dirige o olhar interior da Igreja para a segunda e definitiva vinda de Cristo. Essa vinda dupla percorre a liturgia do advento, que se centra mais no aspecto escatológico até o dia 16 de dezembro, e mais no aspecto do nascimento histórico do dia 17 ao dia 24 de dezembro. Por isso, neste último período a figura da Virgem Maria tem uma relevância particular, que se prolonga no tempo do Natal. Portanto é mais conveniente dá “destaque” a Maria no advento e não no mês de maio, pois, maio está imbuído do espírito pascal. O mês de maio sempre cai no Ciclo Pascal.
Podemos dizer que o tempo do advento está ligado ao tempo comum. É seu encerramento, na comemoração da última vinda de Cristo. São sobretudo os dois últimos domingos que realçam esse aspecto. Por outro lado, o advento como tempo de preparação para as solenidades do Natal está todo ele voltado para o ciclo litúrgico do Natal, já fazendo parte dele.
É um tempo que nos coloca em permanente expectativa da vinda, da chegada de Deus e de seu Reino em nossa realidade. Abre-nos para o encontro com o Senhor que vem nos acontecimentos da vida e, particularmente, no momento celebrativo, comemorando o Senhor que veio fazendo-nos dar um passo à frente ao encontro do Senhor que virá glorioso, quando seu Reino estiver plenamente estabelecido entre nós.
O sinal principal, deste tempo, é a Eucaristia, o sacramento da espera... “até que Ele venha”. O advento é tempo de nos engravidar da Palavra e o Verbo se faça carne em nós! A Liturgia da Palavra pedagogicamente nos leva a viver a expectativa de um novo parto da salvação de Deus.
No 1º domingo os textos bíblicos nos chamam às atitudes de expectativa, vigilância e atenção aos “sinais dos tempos” para que não sejamos tomados de surpresa. No 2º domingo, Isaías e João Batista no impelem a preparar os caminhos ainda tortuosos de nossa vida que impedem a chegada do Reino. É preciso endireitá-los, aplainá-los para que Ele venha e sua salvação aconteça entre nós. No 3º domingo somos convidados a nos alegrar percebendo os sinais da salvação já presentes entre nós. O Senhor está vivo e atuante no meio de nós. Neste domingo a cor rósea traz aos olhos o sentido de uma alegre espera. No 4º domingo, Maria grávida é sinal da comunidade que crê, espera ansiosa por ver o Reino acontecer e se coloca à disposição dos apelos de Deus para seu projeto se realize.
Concluindo apresentarei alguns elementos que compõem a caminhada do advento. Um elemento significativo é a coroa do advento. Ela feita com ramos verdes, com as quatro velas que progressivamente se acendem, retomando o costume judaico de celebrar a vinda da luz na humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que vem. A novena do Natal feita em grupos mantém a atitude de vigilância e espera do advento, com orações, meditação da Palavra, cantos, gestos de solidariedade e compromisso com os mais pobres, montagem do presépio e momentos de confraternização. As celebrações de reconciliação e penitência durante o tempo do advento possibilitam às comunidades um caminho de conversão e retomada do projeto de Jesus.

Jaciel Dias de Andrade

Bibliografia
BECKÄUSER, A. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades. Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.
CELAM. Manual de liturgia. A celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja. Tradução de Herman Hebert Watzlawich. São Paulo: Paulus, v. IV, 2007
LITURGIA, C. D. Cadernos de Liturgia - Ano Litúrgico como realidade simbólico-sacramental. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, v. 11, 2006.

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CRISTO REI NO TEMPO COMUM

Os dois ciclos dos tempos fortes do ano litúrgico, o ciclo do Natal e o ciclo da Páscoa, não cobrem o ano todo. Existem períodos entre o fim do tempo do Natal e o início da quaresma e entre Pentecostes e o primeiro domingo do Advento, que chamamos de Tempo comum. São os domingos e as semanas em que celebramos sempre o mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor, não somente na missa, mas igualmente em celebrações da Palavra, na liturgia das horas e em outras celebrações, até nas festas de Nossa Senhora e dos outros santos. Sobretudo cada domingo do Tempo comum é uma pequena festa de páscoa. Estes domingos, como também os dias de semana, são marcados pelas leituras do respectivo dia.
Durante o tempo comum não se celebram aspectos particulares do mistério pascal, como acontece nos ciclos do Natal e da Páscoa, exceto algumas festas do Senhor, da Virgem Maria ou dos demais santos que acontecem dentro dele.
O tempo decorrido nas 34 semanas fora dos ciclos do Natal e da Páscoa é chamado Tempo comum. Os domingos são domingos do Tempo comum ou Durante o ano.
Esses domingos recebem sua força ou sua espiritualidade de duas fontes: dos tempos fortes e dos próprios domingos. Assim, o Tempo comum é vivido como prolongamento do respectivo tempo forte. A primeira parte após a Epifania e o Batismo do Senhor.  Constitui, então, um tempo de crescimento. Daí a cor verde. A vida nasceu no Natal; ela manifesta-se na Epifania, mas para que possa manifestar-se em plenitude, e produzir fruto, necessita da ação do Espírito Santo. Vemo-lo agir no Batismo do Senhor. Assim, é levado pelo Espírito que Jesus começa a exercer o seu poder messiânico. Do mesmo modo na Igreja. Fecundada pelo Espírito, ela produz frutos de boas obras.
Trata-se de um Tempo caracterizado pelo domingo, por sua teologia, por sua espiritualidade. Não é o caso de substituí-los por temas diferentes, embora algumas solenidades sejam transferidas para domingos. Estas solenidades ou acontecimentos vividos nos domingos terão de ajudar a celebrar o mistério pascal do domingo. Para um aprofundamento sobre o domingo recomendo ler o artigo Ano litúrgico: o mistério de Cristo, publicado anteriormente no site da Diocese de Guanhães (http://diocesedeguanhaes.com.br/), no meu blog (http://jaciel6.blogspot.com.br/) e publicado, também, em uma edição anterior da folha diocesana. No site e no blog se encontram outros textos referente ao ano litúrgico.
Um caso especial de uma festa que ocorre no domingo do Tempo comum é a do Cristo Rei. Esta festa foi criada, na 2ª década do séc. XX, para salientar que Jesus é e fica o Rei do mundo que se afasta sempre mais de Deus. Pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, esta festa foi fixada no último domingo do tempo comum e do ano litúrgico, para dirigir nosso olhar para o Senhor que virá no fim dos tempos para estabelecer plena e definitivamente o seu reino e entrega-lo ao Pai. O caráter desta festa inspirava-se no reconhecimento de Jesus Cristo homem como Rei da criação. E era também reflexo do desejo da Igreja de garantir uma visão da Igreja como cristandade, em que Jesus Cristo devia ser reconhecido publicamente pela sociedade como Rei de todos os soberanos da terra.
Com a reforma litúrgica, a solenidade de Cristo, Rei do Universo sofreu uma mudança de empostação bastante profunda. Agora a solenidade é colocada como último domingo do Ano litúrgico, ou seja, como o 34º Domingo do Tempo comum. Existe um propósito por trás disso. Os dois últimos domingos do Tempo comum e os dois primeiros do Advento caracterizam-se pelo mistério da parusia. Os evangelhos desses domingos proclamam a última vinda, a vinda gloriosa de Cristo, a consumação final, quando Jesus Cristo terá submetido a si e ao Pai todas as coisas e reinará para sempre.
Colocado neste lugar, a festa de Cristo Rei quer proclamar que Jesus Cristo é o Senhor do tempo. É Ele o início dos tempos e o seu fim: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; ele o será para sempre!” (Hb 13, 8).
Um segundo aspecto realçado nesta solenidade: Jesus é Rei ou Senhor não tanto no sentido dos reinos temporais. Os reinos deste mundo são efêmeros e sempre mais raros nos nossos dias. Jesus Cristo é, sobretudo, o Senhor dos corações, ou seja, de todo o ser e agir dos cristãos. Jesus Cristo deve ser o centro de todo pensar e agir dos cristãos. Nada deve ser subtraído a Ele, pois Ele, dom do Amor do Pai, é a vida que Ele veio dar em abundância.
Jesus Cristo é um rei que veio para servir. Oferecendo-se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção dos homens. Isso quer dizer que a conquista do Reino dos céus passa pelo serviço aos irmãos, pela doação da própria vida, a exemplo de Cristo.
O reino de Cristo, submetendo ao seu poder toda criatura, e entregando à infinita majestade do Pai o reino eterno e universal é, como diz o Prefácio da solenidade, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino de justiça, do amor e da paz.
Jaciel Dias de Andrade
Seminarista do 1° ano de Teologia
Membro da Equipe Diocesana de Liturgia da Diocese de Guanhães – MG
Bibliografia

BECKÄUSER, A. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades. Petrópolis - RJ: Vozes, 2003.

CELAM. Manual de liturgia, a celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. Tradução de herman hebert watzlawich. São Paulo: Paulus, v. IV, 2007.
LITURGIA, C. D. Cadernos de Liturgia - Ano Litúrgico como realidade simbólico-sacramental. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, v. 11, 2006.



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MARIA NO ANO LITÚRGICO.

Nas vésperas da grande festa da Solenidade de nossa padroeira, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, proponho uma reflexão sobre a presença de Maria no Ano Litúrgico. Uma introdução ao assunto, em vista da amplitude e significação do mesmo.
O culto que a Igreja rende a Maria, a Mãe do Senhor, é um processo e um caminho do plano salvífico de Deus Pai, realizado plenamente na pessoa e obra de seu Filho, o Verbo encarnado.
De fato, a liturgia cristã, centro e ápice do culto inteiro, gira toda ela em seu torno dos mistérios da salvação e, de modo especial, em torno do Mistério Pascal. Todos os mistérios celebrados ao longo do ano litúrgico e nas diversas celebrações da Igreja estão voltados para esse grande e único centro, e auferem dele seu significado e sua força santificadora e glorificadora.
É fácil compreender, portanto, que o culto aos santos mártires e a todos os que seguiram as pegadas de Cristo tem seu fundamento no Mistério Pascal e não possui sentido sem este último. De maneira especial, a Igreja descobre o lugar de Maria dentro do plano salvífico e sua função protagonística com Cristo no mistério salvífico. Por isso, o culto litúrgico a Maria não se limita a percorrer o ano litúrgico e o calendário, mas, além disso e em primeiro lugar, almeja a presença ativa da Mãe já não tanto como objeto de culto, porém mais como colaboradora com Cristo no exercício do sacerdócio deste último. Por isso, pode-se afirmar sem temor que o culto eclesial possui uma verdadeira “dimensão mariana” em virtude do lugar singular que a Virgem ocupa no mistério de Cristo e da própria Igreja.
Por conseguinte, toda forma de culto mariano que não esteja intimamente ligada e relacionada com a celebração do Mistério Pascal corre o risco de desviar-se da natural e obrigatória referência a Cristo e à obra de salvação realizada plenamente por ele.
 Com toda certeza, não existe uma festa que celebre expressamente a participação da Virgem Maria no mistério pascal, como acontece com a solenidade da Santa Mãe de Deus, a qual celebra a participação desta última no mistério do nascimento do Senhor. Também temos de reconhecer que, ao longo da quaresma, do tríduo pascal e do tempo pascal, a presença da Virgem não é destacada como no advento e no Natal. Tomamos conhecimento, porém, por meio das perícopes bíblicas proclamadas em diversos momentos celebrativos, da presença física de Maria em acontecimentos salvíficos como a paixão e a vinda do Espírito Santo, e da memória que a Igreja, ao celebrar os acontecimentos mencionados, faz dessa presença.
A Igreja tem consciência de que, nas celebrações do mistério de Cristo e da obra salvífica, é imprescindível ter presente a exemplaridade da primeira colaboradora de Cristo Salvador. Uma ausência da memória de Maria na liturgia da Igreja significaria não apenas a ausência de uma mera evocação, mas também a omissão de um elemento de grande importância, pois ela representa um fator integrante do mistério que a Igreja celebra.
Naturalmente, essa presença de Maria na liturgia não tem a mesma eficácia nem o mesmo significado que tem a presença de Cristo, o Autor da salvação e o Mediador universal. A Igreja, sabe, porém, que Maria é a Mãe que, ao lado de Cristo, intercede junto ao Senhor e que acompanha a oração e a ação do povo de Deus no exercício do sacerdócio de Cristo. Foi por isso que o papa Paulo VI esmerou-se em apresentar Maria como “modelo da atitude espiritual com que a Igreja celebra e vive os divinos mistérios”.
O ano litúrgico, que tem sua origem, seu centro e o seu ponto constante de referência na Páscoa do Senhor, é, por sua própria essência, a celebração do mistério de Cristo e, naturalmente, a celebração da presença ativa de Maria nesse mistério. A comemoração da Virgem ao longo do ano litúrgico ratifica o laço estreito existente entre a memória da Mãe e o mistério do Filho.
Nesse itinerário celebrativo, destacam-se de maneira especial a espera e o nascimento do Salvador, que, desde tempos antigos, constituem a raiz da comemoração de Maria no ano litúrgico. Na liturgia da Igreja ocidental, a presença de Maria no mistério pascal, em sua preparação quaresmal e em seu prolongamento até Pentecostes é menos vistosa. Nas liturgias orientais há maior equilíbrio com relação a esse ponto.
A restauração do ano litúrgico e do calendário universal trouxe consigo a supressão de várias memórias da Virgem Maria e a reorientação de algumas solenidades e festas. Essa transformação, à primeira vista, poderia dar a aparência de um empobrecimento da presença da Virgem Maria no ano litúrgico. Na realidade, porém, não foi isso que aconteceu; houve, sim, um enriquecimento da memória mariana por meio do conteúdo e da qualidade dos novos textos. Está amplamente provado que o culto a Maria não realiza um caminho independente e autônomo, mas que todas as memórias de Maria fazem referência a Cristo; por isso, é necessário reencontrar, com base nos textos litúrgicos, a ligação lógica da celebração de um fato salvífico ou de um aspecto evangélico vivido por Maria, como exemplo para a Igreja e o cristão.
A Igreja, que celebra o mistério da Virgem e assume seus sentimentos na celebração litúrgica, vive, no nível sacramental e no eclesial, a máxima e mais autêntica expressão da devoção mariana, enquanto realiza a comunhão com a Virgem e com seus sentimentos. A liturgia é o centro e o cume de toda devoção mariana.
Um fator a se valorizar é a religiosidade popular, não se pode esquecer da centralidade da liturgia, tanto por seus conteúdos como pela exemplaridade de suas formas. As tradicionais celebrações da piedade popular mariana, especialmente se pensarmos no mês de maio, de tradição popular, ou no dezembro, mais relacionadas com a tradição litúrgica, motivam-nos a buscar uma relação mais próxima com as celebrações litúrgicas, ou melhor, a tentar formas de celebração do tipo celebração da Palavra de Deus, de inspiração nitidamente litúrgica.  Não esqueçamos o fato que todo mês de maio está encarnado na extraordinária riqueza do tempo pascal, o qual nos convida a contemplar Maria como a Mãe do Ressuscitado e da Igreja nascente.
Na memória e veneração de Maria convergem motivos teológicos legítimos: a cooperação de Maria na obra salvífica de Cristo e do Espírito, como humilde serva do desígnio do Pai; a exemplaridade para a Igreja, que deve inspirar-se em seus sentimentos no exercício do culto divino; a alegria de contemplar em Maria o fruto mais excelso da redenção, mas também a nova mulher, a humanidade que colaborou com o desígnio salvífico; a esperança e o consolo que oferece sua figura, glorificada ao lado do Filho, síntese de quanto a liturgia promete e oferece antecipadamente em sua dimensão escatológica.
Um grande desafio que se coloca é como articular a doutrina mariana do Concílio Vaticano II com a piedade popular (cf. SC 13). As manifestações devocionais são mais visíveis e parecem mais importantes. “São profundamente marcadas pelo olhar de quem busca na mãe proteção e auxílio nas aflições da vida, projetando sobre Maria grande poder de intercessão junto de Jesus, o poder de conseguir que a água se transforme em vinho”.
Sem negar os valores da piedade popular “variada em suas expressões e profunda em suas motivações” (DPPL, n. 183), é necessário corrigir os desvios de atribuir a Maria funções e títulos que são próprios de Cristo. Neste sentido, é importante cuidar das composições musicais e evitar certas práticas que atribuem a ela as prerrogativas de Deus. É importante ressaltar a sua condição de discípula-ouvinte da Palavra, ícone do nosso próprio caminho no seguimento de Jesus e seu lugar especial na assembleia dos redimidos.
Jaciel Dias de Andrade
Seminarista do 1° ano de Teologia
Membro da Equipe Diocesana de Liturgia da Diocese de Guanhães – MG
Referência:

CELAM. Manual de liturgia. A celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja. Tradução de Herman Hebert Watzlawich. São Paulo: Paulus, v. IV, 2007.
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BREVE COMENTÁRIO REFERENTE A EUCARISTIA EM JOÃO 6.

João não associa a Eucaristia à última ceia de Jesus. O autor não registra a instituição da Eucaristia, mas evidentemente a conhece. Jo 6, apresenta a Eucaristia de modo original, tornando mais explicito o tema da comunhão. A Eucaristia é acima de tudo o alimento que nutre o homem para a vida eterna.
A Eucaristia ocupa um lugar muito importante no pensamento do quarto evangelista. Dela se trata no próprio centro da obra, no capítulo 6, num momento crucial da pregação de Jesus. É nesse instante que os falsos discípulos decidem abandonar a Jesus (v. 60-66) e que aparece o perfil “daquele que devia entregar-se” (v. 64 e 71); mas também é o momento que os “Doze” aderem obstinadamente a Jesus, reconhecendo-o pelo que realmente é (v. 67-69).
O ponto de partida do diálogo e do discurso de Jo 6, 25-59 é o alimento dado miraculosamente a cinco mil pessoas. O discurso começa com o pão que se perde (6, 27), demonstra a diferença entre o maná, pão do céu (6, 32), e o pão do céu que dá vida ao mundo (6, 33). O próprio Jesus é o pão da vida que vem do céu (6, 35). Os judeus não reagem a ideia do pão, mas sim à ideia de Jesus ter descido do céu (6, 42).
E Jesus reafirma que ele é o pão da vida, o pão vivo, fazendo do comer esse pão uma condição para a vida eterna (6, 51) e identificando com sua carne o pão que dá pela vida do mundo. Agora, os judeus reagem à ideia de comer da sua carne (6, 52). E Jesus reafirma que se deve comer da sua carne e beber do seu sangue para ter a vida eterna, pois ele vive naquele que come e bebe, a quem ressuscita. Esse é o verdadeiro pão celeste (6, 53-58). É clara a intenção eucarística da última parte do discurso.
A primeira parte, no entanto, não é interpretada por todos em sentido eucarístico. Alguns pensam que João reuniu dois discursos diferentes: no primeiro, Jesus é o pão da vida, com sua pregação, ou seja, o pão da vida é a sua palavra; esse discurso teria sido unido por João a um discurso eucarístico, o segundo. É evidente que o conjunto o discurso constitui uma construção joanina. Mas o tema do pão da vida é tão central e denso no discurso que não é fácil identificar acréscimos.
Dentro da moldura, o discurso gira em torno de Jesus como pão que é aceito pela fé em seu ensinamento (6, 40. 44-47). O tema da salvação e o tema escatológico estão unidos na insistência joanina sobre o sacramento como princípio de vida, tema que João desenvolve ao seu modo específico. O tema expiatório já não fica tão evidenciado, mas está presente na frase “o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (6, 51).
Os falsos discípulos se afastaram de Jesus porque ele exigiu que crescem na vinda do Filho do homem na “carne e no sangue” (6, 27.35.51), e que crescem com todo o seu ser. Deviam acolher pela fé este Filho do homem, mas acolhê-lo também como feito de carne e sangue; deviam “comer sua carne e beber seu sangue”.

A eucaristia, segundo João, é a comunicação do Filho do homem vindo na carne e no sangue. Esta comunicação supõe acolhimento, que só pode consistir em que o homem acolha a carne do Filho do homem em sua própria carne.
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PÁSCOA: A GRANDE FESTA CRISTÃ

Estamos nos aproximando do grande momento do Ano Litúrgico. Participemos conscientemente deste momento fundamental da nossa fé.
A Semana Santa sobrevém à quaresma, mas tem desde o Domingo de Ramos uma dinâmica própria, que começa com a recordação da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém e segue, passo a passo, os acontecimentos de sua paixão e morte, até sua ressurreição. Liturgicamente, isso é expresso sobretudo no lecionário das missas, que contemplam o relato completo da paixão, do Domingo de Ramos, da Sexta-feira Santa e de todos os demais acontecimentos dos últimos dias de Jesus.
É a semana mais importante do ano para a Igreja, e seu cume são os dias do tríduo que começa com a Ceia do Senhor.
O Domingo de Ramos é uma das missas mais concorridas do ano litúrgico em nossas comunidades. A bênção dos ramos, a cor vermelha da liturgia, o realismo da recordação evangélica da entrada em Jerusalém e do relato da paixão, muitas vezes lido por várias pessoas, conferem a essa liturgia um atrativo especial que a transforma em uma excelente ocasião de evangelização.
O Domingo de Ramos pode ser chamado de abertura do retiro anual das comunidades eclesiais. O dia litúrgico é um tanto sobrecarregado. Chama-se hoje: Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Os mistérios evocados são vastos. Talvez a 2ª leitura do Domingo, a carta de São Paulo aos Filipenses 2, 6-11, possa dar a chave para a compreensão dos dois aspectos: a Entrada triunfal de Jesus e a Paixão. Cristo humilhou-se... Deus o exaltou. A certeza da palma da vitória sobre o pecado e a morte em Cristo deve acompanhar os cristãos na contemplação dos passos da Paixão durante toda a Semana Santa.
Na segunda, terça e quarta-feira da Semana Santa, a Igreja contempla o Servo sofredor, aparecendo em figuras eloquentes como Maria Madalena que perfuma o corpo do Senhor, Pedro e Judas. A Igreja prepara-se para o Tríduo pascal.
A Quinta-feira Santa é de uma riqueza muito grande. Oferece dois momentos. A Liturgia do Santo Crisma na parte da manhã em que, profeticamente, celebra os sacramentos onde ocorre a sagrada unção: Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem. No mesmo dia, na Missa vespertina (Ceia do Senhor), inicia o Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor. Celebramos os mistérios da última Ceia: o novo mandamento, pelo lava-pés, a Eucaristia e o sacerdócio ministerial. Tudo isso, pela entrega de Jesus para ser crucificado, pela entrega de Jesus em cada Santa Missa, pela entrega dos cristãos pelo amor fraterno.
Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, observe-se por toda a parte, o sagrado jejum pascal. E, onde for oportuno, também no Sábado Santo até a Vigília Pascal. Na Sexta-feira Santa não celebra a Eucaristia. Ela permanece em jejum. Comemora a Morte de Cristo por uma celebração da Palavra de Deus, constando de leituras bíblicas, de Preces solenes, adoração da Cruz e Comunhão sacramental.
Em sintonia com o realismo litúrgico desses dias, sugere-se sua celebração às três horas da tarde (15 horas), hora da morte de Jesus. Como no Domingo de Ramos, também na Sexta-feira Santa, usa-se a cor vermelha e lê-se o relato completo da paixão segundo são João.
A Sexta-feira Santa é dia de muitas manifestações da religiosidade popular: em muitos lugares a via sacra percorre povoados ou bairros inteiros, às vezes com encenação das estações e sempre com grande participação dos fiéis; a procissão do Cristo morto é outro costume arraiado em alguns lugares. As imagens de Cristo ensanguentado, o “homem das dores”, tem sido um forte elemento de identificação para o povo mais simples e sofredor: esse homem ferido e maltratado é o Filho de Deus vitorioso e ressuscitado.
No Sábado Santo, com início na Sexta, a Igreja celebra a Sepultura do Senhor, sobretudo através da Liturgia das Horas, aguardando na esperança a ressurreição do Senhor. A tristeza pela morte de Jesus, celebrada no dia anterior, prolonga-se simbolicamente até a celebração da Páscoa. No sábado celebra-se apenas a Liturgia das Horas diante do altar despido e da cruz de Cristo.
A Vigília Pascal, na noite santa da Ressurreição do Senhor, é considerada a “mãe de todas as santas vigílias”. Nela a Igreja espera vigilante a Ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos. Por conseguinte, toda a celebração dessa vigília sagrada deve ser feita durante a noite, de tal modo que ou comece depois de iniciada a noite ou acabe antes da aurora do domingo.
A vigília pascal abre o terceiro dia do tríduo e o dia máximo da festa do ano litúrgico. É uma celebração repleta de símbolos: o fogo do início; o círio aceso nesse fogo e levado em procissão até o templo enquanto se canta a aclamação “luz de Cristo”; o precônio pascal, obra-mestra da literatura; a extensa liturgia da palavra, que percorre toda a história da salvação; a celebração da iniciação cristã – se há –; a renovação das promessas batismais acompanhada da aspersão com água benta; e, finalmente, a eucaristia, que mais que nenhuma outra do ano é memória agradecida pelo mistério pascal de Cristo. 
O domingo da ressurreição tem, além disso, uma missa do dia, na qual se canta bonita sequência pascal. Na vigília, nas missas da ressurreição e em todo o tempo pascal o branco litúrgico simboliza o resplendor da vida nova. O “Aleluia”, que havia sido calado durante a quaresma, volta a ser cantado com renovada alegria a partir desse dia, especialmente durante o tempo pascal.
O tempo pascal, chamado também de “cinquentena pascal”, é formado pelos cinquenta dias que vão desde o domingo da ressurreição até a solenidade de Pentecostes. Hão de ser celebrados com alegria e exultação como se se tratasse de um só e único dia festivo, mais ainda, como um “um grande domingo”. Dentro desse tempo tem especial importância: os oito primeiros dias, a “oitava da Páscoa”, que se celebram como solenidades do Senhor; os seis domingos depois da Páscoa; o dia da Ascensão do Senhor, que se celebra segundo a data do livro dos Atos dos Apóstolos, no quadragésimo dia depois da ressurreição; nos lugares onde não é preceito, essa festa é transferida para o domingo; o quinquagésimo dia, domingo de Pentecostes.
Após essa breve reflexão, desejo à você, leitor, e todos seus familiares uma excelente Páscoa!
Jaciel Dias de Andrade
Seminarista do 1° ano de Teologia
Membro da Equipe Diocesana de Liturgia da Diocese de Guanhães – MG

Bibliografia Básica
CNBB, Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília, Edições CNBB. 2008.
BECKHAUSER, Alberto. Viver o ano litúrgico: reflexões para os domingos e solenidades. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
Manual de Liturgia, CELAM, vol I: A celebração do mistério pascal – Introdução à celebração litúrgica. Trad. : Maria Stela Gonçalves. SP: Paulus 2004.
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QUARESMA: UM GRANDE RETIRO

No artigo anterior fiz uma explanação geral do Ano Litúrgico. No presente texto irei abordar mais especificamente o Tempo da Quaresma.
Como o Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus principalmente pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida, o sagrado Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor resplandece como ápice de todo o ano litúrgico. Portanto, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana.
O dom da vida nova, que foi celebrado pelo mergulho no Mistério Pascal, no dia do nosso batismo, muda radicalmente a nossa atitude em relação a todas as coisas. Mas, imersos em nossas ocupações cotidianas, facilmente nos esquecemos de quem no tornamos. Eis porque a Festa da Páscoa é retorno anual ao nosso batismo.
A Quaresma é, então, o grande retiro anual da Igreja, desde a Quarta-feira de Cinzas, para preparar a páscoa. Prolonga-se por seis semanas, terminando na Quinta-Feira Santa. “A Igreja se une todos os anos, durante quarenta dias de quaresma, ao mistério de Jesus no deserto”. É o tempo de preparação para a maior festa dos cristãos.
Começa em um dia da semana, a Quarta-feira de Cinzas, cuja data é móvel, dependendo da data de celebração da Páscoa, e termina na Quinta-feira Santa, antes da missa da Ceia do Senhor. Possui seis domingos; o sexto se chama Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, e com ele começa a Semana Santa.
A Quarta-feira de Cinzas é, junto com a Sexta-feira Santa, um dia de jejum, e a quaresma inteira, um tempo de conversão e penitência. Unir-se a Jesus em seus quarenta dias de deserto é, para a Igreja e cada cristão, uma oportunidade anual de entrar no íntimo do próprio coração para renovar-se na fé e no compromisso com o Evangelho. A cor roxa e o silêncio do “Aleluia”, louvação pascal, são dois símbolos que acompanham esse tempo até seu término, na missa da Ceia do Senhor durante a Quinta-feira Santa.
Durante esse tempo, ganha importância especial a preparação final dos catecúmenos que recebem os sacramentos da iniciação na Vigília Pascal. O itinerário de leituras da missa do ano A é batismal exatamente para acompanhar a catequese pré-sacramental dos catecúmenos e introduzir todos os cristãos no clima da renovação das promessas batismais que se realizará dentro da Vigília Pascal.
Estruturada à luz do simbolismo bíblico dos “quarenta dias”, a quaresma é considerada tempo de purificação e iluminação para os catecúmenos eleitos para o batismo e “sacramento” de conversão e renovação para os batizados. “Por sua dupla característica [batismal e penitencial] reúne catecúmenos e fiéis na celebração do mistério pascal”, sendo um tempo de “recolhimento espiritual” (RICA, 152) para ambos, preparação para a grande celebração da Páscoa.
Características desse “tempo de graça” são as práticas penitenciais, por excelência, da oração, do jejum e da esmola, palavras que hoje soam arcaicas a muitos ouvidos, mas que podemos traduzir por cultivo intenso e empenhado da espiritualidade cristã, que nos motiva para o seguimento apaixonado d´aquele que nos convida a tomar a cruz do amor maior; do autocontrole, que nos libera para a disponibilidade e entrega de nossas vidas a serviço dor irmãos e irmãs; da solidariedade, sobretudo, com os mais precisados. É nesse contexto e com esse espírito que participamos do canto do Ofício da Quaresma, da Via Sacra e, sobretudo, da Eucaristia dominical; que nos propomos a renunciar a gostos e comodidades do dia-a-dia; que nos dedicamos à Campanha da Fraternidade. Dessa forma, o exercício da penitência prescrito pela Igreja, expressa a nossa busca de crescimento espiritual: retiramo-nos de algumas coisas para poder experimentar outras com maior profundidade. São Bento sugere que cada um recuse a seu corpo alguma coisa da comida, da bebida, do sono, das conversas, das brincadeiras, e na alegria do desejo espiritual, espere a santa Páscoa.
Na manhã da Quinta-feira Santa, celebra-se a missa crismal na qual o bispo abençoa os óleos que serão utilizados nos sacramentos do batismo, da confirmação e da unção dos enfermos. É a última celebração do tempo da quaresma, antes de começar o tríduo pascal.
Após refletir sobre o Tempo da Quaresma, falta nos, para concluir o Ciclo da Páscoa, a Semana Santa e o Tempo Pascal, que será o tema do próximo artigo.


Jaciel Dias de Andrade
Seminarista do 1° ano de Teologia
Membro da Equipe Diocesana de Liturgia da Diocese de Guanhães – MG
Bibliografia Básica
Manual de Liturgia, CELAM, vol. IV: a celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. Trad. Herman Hebert Watzlawich. SP: Paulus, 2007.



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